BRASIL SEM UM ÍCONE
Manoel Hygino
O e-mail do presidente da Associação Nacional dos Escritores, o conspícuo Fabio de Sousa Coutinho, diz o necessário: “Comunico, muito triste e pesaroso, o falecimento, no final da tarde de ontem, terça-feira, 1º de setembro de 2020, aos 89 anos de idade, de Lina Tâmega Peixoto, professora pioneira de Brasília, tendo aqui chegado em 1960, e uma das fundadoras da ANE, em 1963. Lina foi poeta de recursos extraordinários, com meia dúzia de livros publicados, de superlativa qualidade literária. Sua presença nas atividades da ANE era uma constante que a todos enchia de satisfação e alegria. A partida de Lina Tâmega Peixoto significa perda irreparável para a literatura e a cultura de sua amada Cataguases, de Minas Gerais, de Brasília e do Brasil. Ela deixa o filho Marcelo e a neta Mônica, e, em suas dezenas de amigos e admiradores, um forte sentimento de saudade, admiração e gratidão pelo privilégio de convívio tão enriquecedor, ao longo de tantas décadas”.
Em 2010, quando lançou seu “Prefácio de vida”, Lina me enviou um exemplar, com a dedicatória amável, bem típica de seu comportamento e sentimento. Na última orelha do volume, confirmo-o com o texto: “Professora, poeta e crítica de literatura, exerceu o magistério na Fundação Educacional do Distrito Federal e na Universidade de Brasília. Reside na capital do país, mas mora em muitos lugares, onde o sonho da vida habita o imaginário poético”.
Era assim Lina, que nos deixou este mês, mas legando como disse Drumond – uma herança, que é a sua poesia – que “alcança a maturidade poética, não há ternura ou indecisão de traço, tudo é firme, quando necessário, sutil e sempre lúcido e ardendo de uma chama interior”.
Grande amiga de Cecília Meireles, Lina lhe fez uma visita, quando hospitalizada e escreveu: “A última vez que te encontrei, tua vida ia sendo levada pelos deuses… Pediste-me que te levasse para tua casa. Eu respondi que sim. Que a subida seria fácil até teu quarto, pois cada degrau seria como um verso que, juntas, recitaremos”.