ANE — Associação Nacional de Escritores

A Associação Nacional de Escritores – ANE, além de ser a mais antiga instituição cultural de Brasília, deu origem a outras entidades, como a Academia Brasiliense de Letras e o Sindicato de Escritores no Distrito Federal

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“GRANDE MAR OCEANO”, UM ROMANCE INESQUECÍVEL

2 de março de 2016 By ANE

 Paulo José Cunha

A tarefa mais difícil de um escritor de ficção, inclusive o de ficção científica ou de narrativas com participação de entidades etéreas ou animais convertidos em personagens, é garantir verossimilhança ao relato. Se o leitor não acreditar no que está lendo – acreditar assim, sem aspas – o romance, o conto ou a novela não funcionam.

Leonardo Almeida Filho, em seu Grande Mar Oceano (Ed. Jaguatirica, 2019), consegue a proeza de capturar o leitor desde as primeiras linhas, tal como o fizeram tão bem escritores como Gabriel García Marquez, para ficar em um único exemplo. O colombiano carimbou para sempre no imaginário latino-americano uma das mais instigantes aberturas de romances da literatura mundial, que guardo de cor − “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar
aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo” (“Cem Anos de Solidão”). Do mesmo Márquez, outra abertura memorável, que igualmente recito de memória: “No dia em que seria assassinado, Santiago Nasar levantou- -se às 5 e 30 da manhã para esperar o barco em que chegaria o bispo” (“Crônica de uma Morte Anunciada”). É impossível não prosseguir na leitura de um ou de outro. É preciso descobrir o que levou Buendía a estar prestes a ser fuzilado. Ou por que Nasar foi assassinado no dia em que chegaria o bispo. Leonardo Almeida abre seu romance de forma igualmente provocadora: “Que idade tens, ó pá? Quinze, meu senhor, respondeu (…) Sabes que o trabalho é Não terás folga nem
sossego, pensaste nisso? Sim, eu sei, eu quero, meu senhor. Essa obsessão de largar família e rotina já
andava a incomodar o pai e a irmã, mas ele insistia: quero o mar, quero o mar”. Impossível não sentir curiosidade pelo que vai acontecer com o pirralho que insiste em embarcar.

E m Grande Mar Oceano, um desses romances belos e surpreendentes, nestes tempos de tanta falsificação literária tentando se passar por criativa, Leonardo Almeida ganha o leitor, primeiramente pelo domínio absoluto da língua e de suas potencialidades, exploradas ao limite máximo. Como também pela criatividade e pela preciosa arquitetura do texto, que consegue ajustar e engastar com precisão diversas vozes narrativas em países diversos. Ademais, chama a atenção a audácia do projeto, que deve ter dado uma dor de cabeça danada ao autor, para ser concluído com sucesso, considerando-se que, além dessas características que a tornam extremamente complexa, a narrativa ainda por cima se realiza em épocas distintas, que vão desde o terremoto de Lisboa, no Portugal de 1755, até o Rio de Janeiro, no Brasil dos anos 70. E tudo se ajusta. E tudo funciona. E tudo é verossímil, até as coincidências! Além do domínio pleno e eficaz da língua e da linguagem, a pesquisa que o autor teve de empreender para situar
os personagens no seu momento e no seu espaço é perceptível e espantosa. Com absoluta certeza, Leonardo teve de vasculhar arquivos e compulsar velhos mapas e documentos históricos para buscar a exatidão da geografia urbana tanto da capital portuguesa do século XVIII, com detalhes sutis de ruas e cruzamentos, como a do Rio de Janeiro da mesma época. Um dos exemplos é a descrição minuciosa do local onde desembarcavam, na cidade que seria a capital brasileira depois de Salvador, as “cargas” dos
navios negreiros. Como, igualmente, a apresentação, em detalhes, do Rio “moderno” dos anos 70, e da Brasília daquele mesmo período, em plena ditadura militar. A descrição de ruas, praças, avenidas, detalhes da arquitetura, entre outros aspectos, contribui fortemente para a verossimilhança do texto.
A obra, que prende o leitor desde as primeiras páginas, se sustenta com facilidade justamente pela mencionada verossimilhança, alcançada com o suor e o afinco da pesquisa em profundidade. É ler e acreditar. Pode até parecer fácil, mas são poucos os escritores capazes da proeza de narrar acontecimentos ficcionais e merecerem do leitor a crença de que estão consumindo um relato “real”. Leonardo aceitou o desafio. E o venceu.

Escritor tarimbado, com mais de uma dezena de obras que vão da poesia ao conto, passando pela crônica, o ensaio e a novela, Leonardo Almeida Filho (que também invade áreas como a composição musical e a pintura), ombreia-se hoje com a arte dos melhores narradores contemporâneos em língua portuguesa. Por sinal, os próprios portugueses fizeram questão de garantir o lançamento da obra em
terras lusas, antes mesmo que o romance aparecesse por aqui.

Os aspectos acima, por si, já justificariam todos os efusivos aplausos que recebeu e continua a receber. Mas, igualmente, é de se destacar a profusão de formatos de que se serve o autor na construção do relato. Lança mão desde a narração em primeira pessoa – respeitando os “sotaques” próprios de cada época e de cada narrador. Esse detalhe confere ao texto um sabor genuíno que o distingue, com facilidade, de outras narrativas que têm aportado em nosso mercado editorial. Além do que, e com muita segurança, foge ostensivamente do relato formal da narrativa histórica. Igualmente, utiliza sem receio formatos das narrativas das cartas, assim como da poesia, além de fazer incursões nos formatos próprios do conto e da crônica.

Posso estar enganado, até porque minhas muitas atribuições atuais não me permitem um acompanhamento mais sistemático e cuidadoso dos vários lançamentos editoriais
em português. Mas, com certeza, é possível afirmar sem sombra de dúvida que Leonardo Almeida Filho, com seu estro e seu domínio da arquitetura da narração, já ocupa, com folga, lugar de destaque na nova geração de ficcionistas na língua de Camões.

 

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LYGIA, UMA SAUDADE

2 de março de 2016 By ANE

Fabio de Sousa Coutinho

Não, não é da Lygia de Fernando Sabino que vou me ocupar. Dela já cuidou o inigualável Tom Jobim, em parceria com o supercraque tricolor Chico Buarque, numa canção que sempre emociona e arrepia. A Lygia de que vou tratar nestas linhas mal traçadas é a escritora paulista, expoente feminina da chamada Geração de 45, ao lado de Clarice Lispector. Refiro-me, está claro, a Lygia Fagundes Telles, que, desde O cacto vermelho (1949) e Ciranda de pedra (1954), premia seus leitores com alguns dos contos e romances mais belos, bem escritos e de cores mais fortes da literatura brasileira contemporânea. Discreta, reservada e serenamente, Lygia nos deixou no domingo, 3 de abril, aos 98 anos, encerrando uma vigorosa trajetória pessoal e intelectual.

Bacharel em Direito e em Educação Física, exerceu a advocacia por alguns anos, até o encontro marcado e definitivo com a prosa de ficção, a que passou a dedicar-se de modo integral, para sorte de dezenas de milhares de leitores e admiradores. Seus diversos livros, sucessivamente lançados e relançados, em edições cada vez mais cuidadas, têm um público fiel e cativo, no Brasil e no exterior (Portugal, França e Estados Unidos), que os aguarda e consome com a avidez dos famintos, dos que privilegiadamente percebem na escrita uma fonte de prazer estético e de crescimento interior. Criam-se, de fato, laços de veneração e de gratidão pelas possibilidades que se oferecem aos leitores de partilhar a obra aberta pela maturidade literária de um de seus autores favoritos. Membro da Academia Brasileira de Letras desde 1985, na sucessão do jurista, biógrafo e historiador baiano Pedro Calmon, Lygia Fagundes Telles escreveu, em parceria com seu segundo marido, Paulo Emílio Salles Gomes, um roteiro para cinema, Capitu, adaptação livre do célebre romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, fundador e primeiro presidente da gloriosa casa de cultura que Lygia tanto honrou, ao longo de quase 4 décadas.

Numa página de memorialismo intitulada Depoimento de uma escritora, incluída no fascinante Durante aquele estranho chá (Rocco, 2002), Lygia Fagundes Telles disse acreditar na vocação e que
esta “vem a ser simplesmente a liberdade de cumprir essa vontade que vem das profundezas, lá das
cavernas. Em latim, vocare, o chamado. Atender ao chamado, assumir o ofício que se aceita com alegria
porque é o ofício do prazer. O ofício da paixão.” Não há dúvida: quando o assunto é Lygia, seja a musa inspiradora de Tom Jobim, seja a grande romancista de As Meninas (1973) e As horas nuas (1989), que é também a formidável contista de Antes do baile verde (1970), Seminário dos ratos (1977), A estrutura da bolha de sabão (1978) e A noite escura e mais eu (1998), a palavra- -chave é paixão. Para concluir, relembrem-se os versos com que, agradecendo um mimo recebido de Lygia Fagundes Telles, Carlos Drummond de Andrade sintetizou a existência da amiga:

“A cinza no cinzeiro, a chama nalma,
Lygia, é o que te desejo: vida calma
e intensa, no seu ritmo criador,
e, entre todas perene, aquela palma
que envolve de um austero resplendor
a quem põe na sua arte o seu amor.”

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Apresentação e lançamento de novo livro de poemas do acadêmico Ronaldo Costa Fernandes

Artigos — JORNAL da ANE

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